Sindicato dos Armadores e das Indústrias da Pesca de Itajaí e Região

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Esperança para as tartarugas: Novo modelo de anzol para a pesca de espinhel diminui a captura de esp

Esperança para as tartarugas

Novo modelo de anzol para a pesca de espinhel diminui a captura de espécies marinhas em extinção, como a cabeçuda


A mudança de atitude de pescadores tem ajudado a salvar as tartarugas marinhas da ameaça de extinção. Um novo modelo de anzol, diferente do que é usado há décadas para a modalidade de pesca de espinhel, diminui a captura de tartarugas e aumenta a quantidade de peixes fisgados. A novidade, entretanto, ainda esbarra na desconfiança de muitos trabalhadores do mar, que resistem à troca. A pesca de espinhel é feita em alto-mar. Linhas de vários quilômetros de extensão são soltas na água, cada uma delas com, em média, mil anzóis. Incrementados com iscas como a cavalinha ou a lula, os anzóis atraem peixes de grande porte, como tubarões, atuns e mecas. O problema é que, em busca de alimento, muitas tartarugas também acabam fisgadas. O mestre de barco Celso Rocha de Oliveira, que trabalha há 40 anos no mar, diz que em cada lance de espinhel é comum serem puxadas de 30 a 40 tartarugas. De acordo com o oceanógrafo Fernando Niemeyer Fiedler, que trabalha no Projeto Tamar em Itajaí, a maioria das tartarugas fisgadas pelo anzol comum, em formato de torpedo, acabam morrendo em função dos ferimentos. Isso porque o equipamento fica preso no esôfago do animal. As mais prejudicadas com esse tipo de captura são a tartaruga cabeçuda e a tartaruga de couro, ou gigante, ambas em risco de extinção.

Uma pesquisa feita pelo Tamar, junto aos pescadores, demonstrou que a simples mudança no formato do anzol pode evitar a morte das tartarugas. O anzol proposto pelo projeto é mais arredondado do que o usado normalmente. Hoje, o modelo é usado em pesca esportiva de marlim e na captura de peixes que se escondem no fundo do mar. Quando abocanhado pela tartaruga, o anzol arredondado escorrega da boca com maior facilidade. Caso fisgue o animal, será pelo bico, o que vai provocar um ferimento mais leve. Técnicos do projeto Tamar têm trabalhado para convencer os trabalhadores da pesca industrial em Itajaí, maior polo pesqueiro de Santa Catarina. Em abordagens semanais, feitas nos barcos de espinhel que estão ancorados ao longo do Rio Itajaí-açu, eles explicam os benefícios do anzol arredondado e tentam persuadir os pescadores a experimentarem o equipamento. – Existe muita resistência porque, para o pescador, é uma mudança tecnológica grande. É difícil mudar uma forma tradicional de pescar, mesmo demonstrando que, com o anzol arredondado, pegam-se não só menos tartarugas, mas também mais peixes – comenta Fiedler. Outro problema apontado pelos pescadores é o preço do anzol. Enquanto o comum custa R$ 2, o anzol proposto pelo Tamar é vendido por R$ 2,50 em casas especializadas. Como cada embarcação leva em média mil desses equipamentos, a diferença pode pesar no bolso.

Bom para o animal e para o pescador

Em cerca de um ano e meio de trabalho, os técnicos do Tamar já conseguiram que o novo anzol fosse aceito e implantado em cinco das 35 embarcações de espinhel da região de Itajaí.Um dos mestres de barco que adotou os anzóis arredondados foi Celso Rocha de Oliveira, que trabalha entre Itajaí e Rio Grande, no Rio Grande do Sul, com a captura de atum. – O pessoal do Tamar me forneceu 200 anzóis para teste. Com eles, acabei pescando mais peixes do que com mil anzóis do modelo comum – revela. Oliveira adaptou-se tão bem, que hoje, usa apenas anzóis arredondados nos dois barcos de espinhel que comanda. Ele diz que parte do seu sucesso na pesca é graças à mudança de equipamento: – O anzol pega mais peixes e menos tartarugas. Passei a lucrar mais. Para o oceanógrafo do Tamar, Fernando Fiedler, o convencimento dos pescadores passa pela percepção de que os interesses dos técnicos e dos homens do mar são bastante parecidos: – A tartaruga é um animal protegido por lei, que não se pode consumir ou comercializar. Para o pescador, cada tartaruga fisgada é um peixe a menos. No fim, trabalhamos todos pela mesma coisa.

Fonte: Diário Catarinense